Monday, January 01, 2007

Em defesa do velhinho das barbas branquinhas...


«Comando liberta Pais Natal em cidade italiana», começa assim a notícia do Público em última página na última sexta-feira do ano.
Quem não leu devia ter lido, e foi de facto uma das raras vezes que eu li o jornal, no ano passado foram elas 3, contando com esta, e já não falo das vezes que li as gordas desfolhando-o rapidamente até à última (o que não conta), em busca de um pouco de notícias sérias e sensatas plenas de sapiência e razoabilidade e além do mais com sentido de estado à escala mundial, claro que falo das tiras do Calvin&Hobbes. Duuuuuhhhh (sim, não é ‘Daaaahhh’, como se vê por aí).
Mas dizia eu que o Público noticiou então, um assunto que me preocupa bastante, pois eu próprio já tinha congeminado na minha mente perversa algumas soluções, eventualmente não tão ortodoxas, para o caso dos Pais Natal alpinistas, que um pouco por toda a parte poluem as vistas de quem se esforça por ter pensamentos puros e sadios numa época que se quer de paz e harmonia. Ora, convenhamos que ninguém é de ferro, e os italianos também não o são, e em boa hora o “Movimento de Libertação dos Pais Natal das Varandas” (MLPNV) começou a libertar a cidade de Bérgamo desta corja, que tem vindo a tomar conta das varandas e janelas da Europa desde há uns anos a esta parte.
Por cá, a velha tradição dos brandos costumes, faz com que ninguém mexa uma palha e a praga destes pobres habitantes da Lapónia, desgraçadinhos pendurados nas janelas ás vezes pelos pés, faz com que se tenha vindo a notar um crescimento vergonhosamente vertiginoso, colocando o País mais uma vez à frente dos seus congéneres europeus. Será isto um sinal da anunciada retoma económica? Parece-me que não, mas enfim, eu de economia pouco ou nada percebo, e dos problemas específicos dos trabalhadores da Lapónia muito menos. Porém, hoje, urgiu em mim uma urgência muito grande de falar aqui neste assunto, pois passei por uma casa, ali pelas bandas de Ovar, ou Aveiro, que tinha, nada mais, nada menos, que 8 Pais Natal na varanda, pendurados pela mesma corda!
É o descalabro, penso eu, por essa razão, parece-me justo colocar aqui aquilo que é uma pergunta que aquele jornal enuncia, e que de uma forma muito correcta, reflecte bem a nossa atitude perante aqueles que são diferentes de nós.
Se o Pai Natal é um espírito livre, que o é, que direito temos nós, cidadãos do Mundo, de o amarrar, mãos e pés, às varandas e janelas de nossas casas, estes inocentes Lapões, obrigando-os a passar todo o Inverno ao relento?
Nem entram para comer uma posta de bacalhau, nem para provar uma rabanada, nem enfiar o dente numa filhós, nem um pinhão, nem uma uva passa, e nós muitas vezes nos esquecemos deles na varanda até à Primavera?
Não é justo.
Acho que vou fazer aprovar uma moção aqui no condomínio para que no próximo ano a ninguém seja permitido colaborar neste “Pai-Natalicídio”! Querem pôr alguma coisa na varanda, ponham sandes de queijo e copos de tinto, pois isto de andar a distribuir presentes a noite toda abre o apetite, mesmo para um natural da Lapónia…

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