CALAMIDADE – DESGRAÇA – INGNOMÍNIA – PATRIMÓNIO CULTURAL DELAPIDADO

Um sábado de tarde, e uma foto não representa mais para o leitor desta espécie de pasquim, que um simpático casal, D. Filomena e o Sr. Correia, que descansam no seu pequeno tasco, que o é afinal, no intervalo entre as refeições servidas e as refeições que hão-de vir. Chão limpo, mesas arrumadas, toalhas postas, um convite a entrar e a pedir que nos sirvam seja lá o que for que a D. Filomena está a cozinhar na sua espécie de laboratório de coisas boas que é a cozinha, lá no fundo, quase escontada à muralha “Fernandina”, pequena, prática e acanhada, mas isso pouco importa, o importante mesmo é que nos sirva o que estiver a sair, é bom com certeza, desde que saia das mãos desta espécie de fada das panelas e tachos. Venha para a mesa depressa que temos vontade de nos alambuzarmos de acepipes de fazer chorar os paralelepípedos da rua!

Porém, esta é afinal uma foto de uma desgraça anunciada.

É verdade, uma desgraça, um sinal do fim do mundo!

Acreditem que com isto que soube agora de viva voz fiquei tão perturbado que por mim, mais me valia que o mundo acabasse ali, naquele chão da sala de jantar, o qual tenho por sagrado.

Eu explico.

Passeava eu um amigo pelo velho burgo, mostrando-lhe os cantos à casa, e depois de o guarnecer de algumas iguarias na Padaria Ribeiro, eis se não quando pelo mero acaso do caminho que deixei que os pés tomassem, aproximei-me da Casa Correia, vejo a porta aberta e entrei, na esperança de reencontrar dois amigos e de fazer a pergunta: estão a trabalhar no dia 15 de Agosto (feriado)?

Lá os encontrei a jogar às cartas, para ajudar a passar o tempo. A televisão ligada mas, pouca atenção lhe prestam, já que é ao jogo, das cartas, que toda a atenção está focada, porque as cartas são assunto sério a que precisamos estar atentos.

Cumprimentos, abraços, beijos carregados de sorrisos, e pelo meio da conversa nem chego a fazer a pergunta que queria, pois a resposta foi-me dada antes e matou-me e enterrou-me logo ali naquele momento que me pareceu como se me tivessem tirado o ar todo que precisava para respirar...

Caros Amigos, a Casa Correia vai fechar em definitivo e só haverá pela última vez tripas na próxima 5ª Feira, dia 8 de Agosto. Acreditem, as palavras não são minhas, são da D. Filomena!

Acabou!

É O FIM DO MUNDO! DESGRAÇA!! CALAMIDADE!!!!

Para mim, pior mesmo é saber que nesse dia não posso lá ir...  

 (...)

Até ao fim, continuarão os dois a jogar às cartas, pelo menos aqui na minha foto, como se o tempo tivesse afinal parado e nada se tivesse passado.