Cartas à Lai Lai
Cara Lai Lai,
Pois que muito bem te encontre esta minha óscula, aquando apuseres as tuas órbitas celestiais em cima destas palavras.
Hoje venho rogar a tua atenção para a matéria
estranha que se segue, toda ela, de uma maneira ou outra, estrambólica,
não que eu te julgue inculta nas matérias insanas que se seguem já que,
iluminada como és, és conhecedora de todas as matérias, mesmo aquelas
que nós nem sabemos existirem.
Divago.
Pois fui eu, beber um pouco de cultura geral,
assistindo a uma palestra de um senhor acerca da fenomenologia dos
fenómenos estranhos o que, como se sabe é algo que acontece imenso no
nosso pequeno e lusitano jardim, e não é exclusivo do Entroncamento,
veja-se o caso de Gondomar, onde os porcos andam de trotinete, e as
vacas atravessam a rua (quando não estão a conduzir o trânsito…).
Uma plateia cheia de gente com semblante de
eruditos, e um orador com um ar de quem percebia imenso do que estava a
dizer, ainda mais porque se citava a si próprio no seguimento do livro
que tinha escrito.
Não tive a tirar notas, o que devia, já que a
memória é fraca e a idade avança, mas assim ao correr da pena, há alguns
que captaram a minha atenção.
O homem começou por falar de pedras, um tema que
me é muito querido, já que sou um colecionador de seixos, de lavas, de
granitos e de vidrite, e por isso os meus amigos até me arranjaram um
apelido catita: calhau.
È que pelos vistos, há na nossa terra imensas
pedras com formas estranhas, e desenhos gravados na pedra, e até uma
linguagem escrita que, é anterior à linguagem escrita, o que não só é
estranho como assombroso! Mas eu cá não acredito muito, faz lembrar
aqueles desenhos muito tortos de pretensos animais que se fazem no
xisto, e que depois faz-se provar que são pré-históricos, mas que na
realidade resultam de invenções de pastores com demasiadas horas de sol
na moleirinha, e que já se encheram de andar a correr atrás das
ovelhinhas para as caçar atrás das moitas (…).
Ao que parece, um cavaleiro de olhos em bico a
apontar para oeste esculpido num único bloco de lava foi encontrado na
ilha do Corvo aquando do povoamento dos Açores. Eu cá não acredito que
tenham sido os chineses os primeiros a achar os Açores. Era o que mais
me faltava! Assim como não acredito na história que os nazis
conquistaram a península ibérica, só porque encontraram suásticas
gravadas na citânia de Briteiros… Vá lá a gente saber em quem acreditar?
Mudando de assunto, o sr. mudou-se para o assunto
das medicinas alternativas como a homeopatia, a halopatia, mas eu
fiquei cá para mim com a impressão que o sr. tinha um problema
patografico. Ah, e falou às páginas tantas na pomada milagrosa do Prof.
Porciúnculo, que cura todos os males de pele. Acontece que o homem
morreu e levou para a cova o segredo da pomada… E falou ainda do menino
virtuoso de Torres Vedras. Ora, todos estes exemplos cheiram-me a
patranha…
Ainda estava eu a assimilar isto, mudou-se o sr. de assunto para o assunto
das experiências sobrenaturais, de vida para além da morte, de
procissões de espectros, e até de um autocarro voador. Ora, toda a gente
sabe que na vida para além da vida ninguém faz experiências, nem
participam em procissões, assim como, toda a gente sabe, que autocarro
voador é um avião de passageiros … A única que eu acreditei assim mais
ou menos, foi uma sessão espírita que ocorreu em 1882 e, invocando o
espírito de D. Sebastião, este fez previsões mirabolantes para dali a
uns anos. Eu acredito no D. Sebastião! E até já andei à procura no
iutubo do vídeo, mas népia, curiosamente, só encontrei vídeos da Alzira
fadista em topless… go figure!
O sr. disse também ter existido lá para as bandas
de Paranhos, um lobisomem, coisa que é injusta, eu era de facto peludo
quando nasci, mas não a esse ponto!
Já acredito mais, por exemplo, em prodígios
celestes, mais pelos celestes que pelos prodígios, nomeadamente pelos
fenómenos pastelaria-o-lógicos. Se não vejamos, em 1900, e a propósito
de um eclipse, a Pastelaria Costa Moreira, apregoava nos jornais, «uma
nova qualidade de pasteis», os Eclipses. Isso aí já apela ao meu sentido
cosmológico, nomeadamente ao cosmos das pastelarias, constituindo-se em
um fenómeno cosmológico, por exemplo, o eclipsamento dos éclaires… Embora também
eclipse muito bem bolas de berlim, glórias e pasteis de nata…
Lá o sr. também referiu, ou disse, que quando
passou por cá o cometa de Halley, toda a sorte de fenómenos estranhos
estava previsto, mas acho que eram mais fenómenos de marketing para
vender a banha da cobra, como é o caso do pó milagroso para proteger
toda a gente dos gases cianídricos, letais para toda a humanidade. Ora
tragam-me cá um bocadinho desse pó para testarmos o efeito dos meus
gases de escape, que não sendo cianídricos, são mais do género
metanóides, muito que são eficazes para derrubar a espécie humana.
Mas a que eu gostei mais foi a parte das invasões
marcianas. Sabias que já fomos invadidos duas vezes? … fora as que a
gente não sabe! Ou seja, isto foi tudo encoberto, para que ninguém
saiba! Pois vê lá tu que estas invasões apocalípticas, foram
testemunhadas por milhares de pessoas e não é que ninguém se lembra de
nada? ENCOBRIRAM TUDO! Os homenzinhos verdes de marte vivem no meio de
nós e ninguém deu ainda conta disto!!!
Como diria o meu Tio António: A CALMA REINA EM TODO O PAÍS.
Do teu,
Labels: extraterrestre, Fenómenos Estranhos, Invasão extra-terrestre, Lai Lai
0 Comments:
Post a Comment
<< Home