Monday, February 04, 2008

A Filha da Mãe



«Quem somos nós afinal? Nada mais somos que Meretrizes, numa esquina da Vida.»
Autor conhecido, que preferiu ficar no anonimato, por razões de saúde.
A Puta


Um - Então que é lá isso? Insulta-se um tipo ao tirar-lhe o retrato junto a um malcriado grafitti?

Outro - Nada disso. Até que está mesmo bem, o grafitti, tem as letras todas bem escritas, pela ordem correcta e a grafia não será mesmo das piores, embora o facto de estar em maiúsculas parece que estamos a falar aos berros.

Um - Mas afinal com que direito sujamos as paredes das cidades com estas bestialidades plenas de má-criação?

Outro – Olhe, com o mesmo direito com o que se tiram retratos parvos como este! O direito á Liberdade!

Um - Mas não deixa de ser um insulto.


Outro – Só se o ofender particularmente a si.


Um – Não só a mim como á generalidade das pessoas de bem, ou por acaso V. Exa. não é uma pessoa de bem? A mim pelo menos parece-me.

Outro - Muito obrigado pelo seu elogio, só denota a boa educação de V. Exa., não desfazendo, e apesar da notória falta de gosto na vestimenta, tenho precisamente a mesma opinião de V. Exa. e ainda não o conheço há mais de 5 minutos!
Mas repare lá, isto da liberdade de expressão é assim mesmo, temos de ser tolerantes uns com os outros, se não vejamos, afinal o que é isto de ser puta? Não seremos todos umas meretrizes da vida?
Um – Por quem me toma, eu lá por me vestir menos bem na sua opinião não faça de mim uma coisa que não sou!

Outro – Não o quis ofender, longe disso!

Um – É que se não fosse a falta de educação de sermos levados a ler mentalmente esta palavra, os olhos, como se costuma dizer também comem, ele há por isso um outro insulto, o insulto ás vistinhas!
Outro – compreendo o seu ponto de vista, os dois, e de facto admito que possam as pessoas reflectir sobre a fliha da putisse desta fotografia. Mas continuo a pensar que cada um é livre de reflectir sobre ela da forma que quiser. Tomemos por exemplo a visão artística da coisa...

Um – Artística? Olhe o tipo que fez isto deve ser um manguela que só visto. Por não ter que fazer é que andou para aqui a conspurcar esta parede! Ele devia era ir trabalhar para uma arte a sério, como ir trabalhar para as obras! Essa é que era! Agora vir para aqui insultar quem passa!

Outro – Olhe que agora V.Exa. fez-me lembrar uma outra perspectiva, sabe, a própria perspectiva das ditas.

Um - ... desculpe mas não o percebi. Que perspectiva é essa?


Outro – A perspectiva das ditas, as trabalhadeiras, as serigaitas, as meretrizes, as dinamizadoras do fluxo sanguíneo, estimuladoras do cortex, ...

Um – Então diga lá que raio de perspectiva vem a ser essa que estou curioso.

Outro – Está-se mesmo a ver, embora este possa de algum modo ser uma forma muito rebuscada de marketing, não acha que ainda assim elas se podem sentir lesadas em verem assim denegrida a sua actividade ... profissional?

Um – V. Exa. está a gozar comigo?

Outro – De modo nenhum. Mas convenhamos que não abona nada em função de uma das actividades profissionais mais antigas á face da Terra. Eu não sou historiador nenhum mas se se diz ser esta a mais antiga actividade profissional da História, logo esta é a actividade económica mais antiga de que há registo, de onde toda a História da Economia Mundial tem os seus alicerces assentes! E aliás, a própria história da sexualidade humana, enquanto ramo científico da Medicina do Trabalho, está por consequencia, ligada a esta actividade, mesmo até porque aí se formaram sexualmente a quase totalidade dos homens da história, os importantes e os outros.
E veja, não adianta ser, ainda nos dias de hoje, um dos pilares mais sólidos da História do Homem, e é tão maltratadapela sociedade, não tem apoios, não há centros de formação profissional, nem sindicatos e deixe estar que o Estado também não facilita nada, nem nos impostos e nem na saúde, nem na educação dos filhos, e por aí adiante, já para não falar dos subsídios comunitários à produção das empresas unifamiliares.
E olhe que algumas passam as passas do Algarve numa actividade que se diz lúdica, são muito maltratadas pelos clientes, e pela entidade patronal, e que muito faz pelo bem estar físico e psicológico de muita gente por esse mundo fora. O que não é fácil, e hoje em dia para poderem acompanhar os tempos modernos, com a internacionalização e a globalização, tem de estar aptas a usar as novas tecnologias, saber falar línguas, estarem providas de uma elasticidade comparável a artistas de circo, terem uma elevada tolerância alcoólica, conhecerem vários tratados e legislação sobre o assunto, ... e por aí fora.

Um – Quer-me parecer que se está a candidatar a sindicalista do sector.

Outro – E porque não, já tenho bastante prática.

Um – Mas V. Exa. é sindicalista?


Outro – Não, não, eu falava mais no sentido de as compreender, profissionalmente.

Um – É lá, não me diga que também trabalha no “sector”?

Outro – Não mas, quer dizer, ás vezes chego a ter dúvidas sobre o sector onde me encontro a trabalhar.

Um – Agora é que não percebi.

Outro – No meu trabalho tenho de me disponibilizar para fazer o que o cliente quer, presto-lhes uma série de serviços a troco de comissões, mas tenho de estar disponível para fazer muito para além do que está na “folha de trabalho” ou no preçário. O patrão por seu turno, fica com a maior parte do dinheiro e a outra parte vai para o Estado, esse outro patrão silencioso que vive na sombra. Muitas vezes trabalho mesmo para aquecer, só para ver os clientes satisfeitos com os nossos níveis de serviços e eficiência, pois o patrão insiste em não cobrar. Não tenho o direito a reclamar e ainda me fustigam se resolvo abrir a boca ... quer se dizer. Sou uma ou não?

Um – Visto dessa perspectiva.

Outro – Está a ver?

Um – Estou a ver, estou. Olhe lá e ... quanto é o tombo?

Outro – Ah meu grande f .............



P.S. – o modelo desta fotografia está disponível para sessões em privado, ou em público, mesmo com senhoras empresárias da vida, e aceitam-se pagamentos em numerário, ou em géneros... De qualquer das formas, não se passa recibo!