Friday, April 20, 2007

Não quero sair.


Afastei-me dos outros e subi a um dos fraguedos (1488m.).

Sentei-me no alto e fechei-me sobre mim próprio.

Dá-me vontade de aqui ficar a tentar com a minha limitada visão,abarcar o indiscritível horizonte que daqui se contempla.
Inalei com profundidade, deixei-me sentir o ar, moderadamente rarefeito, que me pareceu violentamente límpido e puro.
Nos ouvidos, ecoa o silêncio, entrecortado com o murmúrio de uma brisa.


Não me apetece sair daqui.

Mas a realidade é cruel e fria,e a visão lá em baixo do resto do grupo despertou-me para ela.

Há que seguir caminho, pensei eu.

O Aniversário

Olá MiG-21!
Os meus votos atrasados de um Feliz Aniversário! Espero que tenhas tido um dia fantástico!

O meu dia do teu aniversário foi fabuloso. Comecei o dia como convém, ou como é suposto – de manhã. Ainda o galo tentava penosamente sacudir a geada da crista, lá ia eu e mais dois amigos, estrada dentro, rumo à tua festa.
O caminho foi longo, sinuoso até, o carro ameaçou não colaborar, mas lá acabamos por chegar, cedo, como já disse, mas não tão cedo como gostaria, confesso. Começar a caminhar ao mesmo tempo que assistimos ao despontar do Sol no horizonte era o meu objectivo.

Castro Laboreiro estava um cubo! Não sei se era a primeira impressão de um citadino demasiado habituado ao conforto doentio do ar condicionado, se era do local onde iniciamos o percurso ser desabrigado e ventoso, mas estava um frio enervante, embora impoluto. Fizemo-nos ao caminho, procurando desde cedo encontrar as belezas do local, coisas banais, mas que nos falam aos sentidos, nomeadamente à vista, ao sentido de estética, mas sobretudo ao sentido da vida.



Por entre as ameaças do clima e de alguns canídeos, mas não por isso, saimos fora da vila. Ainda mal tinhamos começado e fomos agradávelmente surpreendidos pela neve gelada que começou a cair em barda. De imediato surge-nos a dúvida, city slicks que somos, o que fazer da nossa programada festa de aniversário perante a ameaça de um nevão valente. Confesso que voltar para trás era tentador, mas acabamos por prosseguir viagem, a ver que tal a gente se dava com aquilo, admirando de caminho o fenómeno atmosférico, com o qual não estamos habituados a lidar na nossa santa terrinha.


Após um desnecessário desvio, retomamos o trajecto original, quase sem desvios, por entre as aldeias, lameiros, campos de cultivo, ribeiras e fraguedos. O Sol rasgou finalmente por entre as núvens, dando-nos espaço para o habitual deslumbramento pelas coisas maravilhosamente simples da Natureza, da acção do Homem, da vida dos animais. Falando de animais, acompanhou-nos desde o início uma cadela, castro-laboreiro, algo entradota no que diz respeito à idade. Fez connosco todo o percurso, acompanhou-nos desde o início junto ao carro, até ao regresso ao mesmo, fora os desvios de sua iniciativa, alguns dos quais não poderiamos acompanhar a não ser com a vista. E mesmo assim...Afável, simpática, malhada, de odor intenso... De nós obteve o sorriso, a conversa amena, as palavras amigas, os afagos, o almoço e lanche. Pelo caminho sofreu as agruras de ter escolhido acompanhar-nos, os trajectos difíceis, os escolhos e o tojo do caminho. Sofreu também pelos territórios canídeos alheios que transgredimos, notórios pelas discussões com os seus parentes e semelhantes, e pelas ameaças de mordidelas. Lá para o final da jorna, ajudou-nos a encontrar uma espécie muito rara nestas paragens, autóctone do Gerês em geral, de Castro Laboreiro em particular, o felinus arvorensis noctivorus albinus, um parente do gato comum, que vive nas árvores, onde se alimenta, sobretudo de aves canoras, mas também do ocasional aracnídeo e dos incautos miriópodes. A bem da ciência, o Crackers ainda lhe atirou com uma bolacha de água e sal, podia o bichito ter fome, obtendo para nosso desalento uma reacção negativa do animal. Parecia que nos ignorava.

O caminho pouco depois se nos abriu aos olhos, com o Sol a rasgar por entre as núvens, dando lugar a algum calor que nos secou a roupa ainda húmida da neve.O percurso fez-se à volta de algumas montanhas em redor de Castro Laboreiro, com o seu castelo altaneiro (1033m), mas que, quem por ali anda à volta conclui, que não é assim tão alto como parece.

Perdidos com os habituais desvios fotográficos, demos por nós a almoçar num agradável lameiro. Conversa acesa e raios de Sol agradáveis, fomos recuperando algumas forças perdidas, por entre a entusiasmada mastigação do almoço.

Antes de partimos dali foi tempo de festa. Um bolo, com uma vela de aniversário e tudo, mais a cantoria da ordem. Houve até fotógrafo. Festa rija, como é próprio! Até o canito se alambuzou todo com aquela inesperada fatia de bolo de chocolate que lhe calhou na rifa. Apenas faltou o mais importante.


O caminho voltou a desfilar por debaixo dos nossos pés. Atalhando onde podiamos, pelo Crackers, cujos joelhos lhe estão sempre a pregar partidas.Pelo caminho passamos por alguns roqueiros bonitos e imponentes. Alguns sem dúvida obras de arte, esculpidas com esmero pelas forças naturais, ou simples devaneiros artísticos de alguns quantos deuses entediados.De novo atalhamos caminho, já era tarde e o Crackers estava todo empenado.Foi o momento de mais um desafio, é o que acontece quando não se segue o caminho marcado, e sobretudo quando se é guiado por um imbecil com vocação para bulldozer. Mas tudo correu bem, e quanto mais que não fosse por isso, valeu a pena a dificuldade e o esforço extra. Não fazemos por constantemente medir as nossas forças com aquilo que nos rodeia, bem sabemos que somos insignificantes. Ainda assim as escolhas pela aventura de um trajecto não planeado (ou mal planeado), tem-se revelado sempre cheias de interesse e entusiasmo por todos. Como foi o caso. Até o cão seguiu em frente explicando-nos sem falar as diferenças de aderência entre as suas patas nuas e os nossos pés calçados...

A travessia das aldeias, para além dos já costumeiros latidos dos cães à nossa passagem ( a culpa é mais minha...), e do “bom dia” que atiramos a quem por nós passa ou por quem nós passamos, é sempre oportunidade de encher o olhar e o pensamento, pelo de deslumbramento pelas construcções, pelos hábitos, pelas pessoas. Sou secundado pelos meus comparsas, ensaiando teorias sobre os assuntos e temas que por nós desfilam, tentando deles registar instantes, cores e formas. Um destes comparsas, qualquer dia destes, ainda leva um estalo, pois passa a vida a tirar fotos às miúdas...

A conclusão destas caminhadas é invariávelmente a mesma, e ao mesmo tempo sempre diferente. Vimos de lá, seja lá onde for, ricos pelos sentidos, mas sobretudo pelo sentido da vida que não temos, e que saudávelmente invejamos o dos outros. Trazemos os alforges cheios de imagens, etéreas (sempre), a roupa húmida da transpiração corpórea ou da chuva (ou neve), as botas cheias de uma massa castanha de odor intenso, as pernas cheias de arranhões, o cabelo despenteado, as mãos com espinhos e farpas.

Vimos cheios de tudo sem ter tirado nada de lá. Vimos fartos. Carregados e ao mesmo tempo extremamente leves. Nada lá deixamos que não fosse dali. Pouco mais alteramos que meia-dúzia de ramos secos partidos, a ocasional regadela na vegetação, e sobretudo a nossa pegada no terreno, qual Armstrong perpectuado no fino pó lunar.

Queremos sempre voltar, antes mesmo de termos saído. Encontramos sempre mais coisas que gostariamos de ter feito, mas que fica para a próxima vez. Obrigado MiG-21 por uma festa fantástica e única!Para o ano já sabes que contas connosco!



« No silêncio meditativo dos fraguedos, onde o tempo dir-se-ia haver parado na sua marcha inexorável, como voz dorida da própria paisagem (...). Nem uma árvore pôe uma nota de vida vegetal nos cimos graníticos.»« O Homem sente-se esmagado perante o ambiente austero, e nos recessos nublosos da consciência, em face desses rochedos soerguidos para o alto, ouve-se o tumultuar eterno da inquietação humana perante o mundo.»

O IETI do Gerês...



" IETI" avistado no Gerês


Foi durante uma das mais recentes estadias do Prof. Pitanguinha da Silva no Parque Nacional da Peneda-Gerês, o qual se dedica ao estudo da não-relação entre a bosta de vaca e os cogumelos venenosos, que este pode observar uma criatura que já toda a comunidade científica julgava extinta.Foi por isso com enorme rejúbilo e satisfação renal que recebemos na redacção informação que afinal ainda está vivo – O Homem do Saco, esse ser do nosso imaginário colectivo, que figura no hall dos mitos urbanos ao par do Homem do Gelo, o Homem das Cavernas, o Homem da Atlântida e o Homem-que-mordeu-o-cão, entre outros.O Prof. P. S., em entrevista exclusiva ao nosso repórter, declarou que « Eu estava a observar o crescimento de um cogumelo enquanto este irrompia pelas camadas exteriores e recessas de uma bosta encordoada com mais de quinze dias, quando sinto que estou, eu próprio, a ser observado. Quando olho para trás, vejo atrás de uma giesta uns olhitos pequenitos, quais azeitonitas, a olharem para os meus. Ao tempo que reajo, e tento focar a máquina fotográfica para uma fotografia deste estranho ser, este esgueira-se-me monte acima, de saco na mão, conseguindo apenas registar a sua fuga.»O Professor mostrou-se visivelmente entusiasmado com o achado, que veio também e afinal, trazer uma explicação simples para uma questão antiga, «... eu já andava cismado sobre qual seria o animal que me comia os cogumelos todos, mal eles irrompiam da bosta, pois pareciam arrancados ainda frescos, deixando parte do pedúnculo para trás.» Quando questionado sobre se haveria uma relação causa-efeito entre a não-extinção do Homem do Saco e a sua alimentação à base de cogumelos bostídeos, este afirmou « É possível.».




Prof. Pitanguinha da Silva

O Prof. Pitanguinha da Silva, licenciado pela Univ. de Cu Ritibba em Engenharia Agrónoma, e com uma pós-graduação em Nano-Bioquímica-Criogénica, é Professor Honoris Causa pela Universidade Autonómica do Burkinda Faso, e é a mais importante autoridade mundial sobre cogumelos bostideos, reconhecimento que advém da publicação do seu mais recente trabalho “Bosta de Vaca e os Cogumelos Venenosos – uma não-relação”.É frequentador do PNPG, onde acompanha os movimentos do gado autóctone entre as Brandas e as Inverneiras, e as consequentes bostas.

Técnicas de Sobrevivência - Alimentação

Os invertebrados


Em toda a parte as encontramos, as lesmas, esse ser repugnante e invertebrado, primo dos caracóis e caracoletas, tão apreciados em certas regiões do país, mas cujo valor nutritivo é tão baixo, e o paladar é tão ruim, que nem com cerveja vai, aliás seria desperdício de cerveja.
A lesma, que como se sabe sabe a galinha, pelo contrário, o seu valor nutritivo é de tal forma elevado que, a ingestão de uma lesma adulta média, permite a uma pessoa normal permanecer em movimento/exercício moderado durante dois dias sem comer nem beber.
Por isso, e como dizemos por aqui: anda cá bichinho!

Cogumelos Bostídeos



Os Cogumelos distinguem-se em dois grupos alimentares principais, os que são de comer e os que são de não comer. Tendo em linha de conta esta regra simples, a sobrevivência está de toda a maneira assegurada. De entre as espécies menos conhecidas no nosso país está sem dúvida o “Cogumelus Bóstius Bovinensis”, ou seja os cogumelos que são nascidos no seio de bostas de bovino. Apenas se deve ter em conta que estes cogumelos para além de possuirem um odor característico, podem ser venenosos, há por isso que observar a que espécie pertencem.

Advertência Grave – nos locais que prolifique a doença das vacas loucas, é recomendável não comer cogumelos nascidos em bostas provenientes de bovinos contaminados. Existem estudos científicos em curso que levam a supor que, embora não sejam mortíferos, todos os cogumelos provenientes dessa origem são alucinogéneos e os seus efeitos permanentes.