Friday, December 27, 2013

Conto de Natal




Parecia-lhe estranha, já de si todo aquele quadro cénico que se perfilava em tom divinatório, lá ao longe. Mas o frio da montanha, o pequeno almoço também ele já distante na madrugada, as botas a deixar entrar água, as luvas rotas, tudo se estava a conjugar nas congeminações que a sua mente construída durante o caminho. Ao longe via algo que se assemelhava a uma manta escura que se movimentava na montanha, de um lado para o outro, que ainda pensou ser a sombra de uma nuvem. Mas não havia nuvens. Depois pensou em limpar os óculos, estavam sujos, mas se ao menos os tivesse trazido consigo. Enfim.

Ao dobrar uma curva do caminho deu de caras com um cemitério antigo, já quase sem muros, onde pontilhavam algumas lápides ferrosas de pé, e outras de lousa e também de ferro espalhadas, tombadas, outras desfeitas comidas pelo clima carunchoso. Num dos lados do cemitério estava um muro inexistente, e lá encontrou aquilo que o fez duvidar de tudo que tinha como certo.

Uma ovelha branquinha vociferava agressivamente para uma matilha de doberman-castro-laboreiro, que era aparentemente apascentada por um velhote de barbas branquinhas sobre o qual irradiava uma luz anormal.

Parecia-lhe uma cena bíblica, ainda que um bocado marada … alternativa, e quase gótica… quer dizer, os cães eram quase pretos, com as malhas claras tão características da raça doberman-castro-laboreirense, o velhinho vestia roupa preta (ou muito suja de fuligem), estavam num cemitério meio em ruínas e , embora a ovelhinha fosse branquinha, se fosse cor de rosinha era e tivesse uma coleira de picos … era perfeito, o enquadramento gótico…

À passagem vocalizou um boa tarde, e um sorriso forçadamente simpático na esperança de que a sua cordialidade fosse interpretada como sincera e os cães não sentissem que estava a vazar adrenalina violentamente. Estranhou mesmo muito a resposta, apenas da ovelha, que baliu um “Méééé” prolongado e profundo que quase parecia vindo do além, demoníaco, se calhar. Ficou ainda mais assustado, mas prosseguiu, tentando não quebrar o ritmo.

Ele sabia que as ovelhas, como os porcos, e outros animais quadrúpedes, não eram assim propriamente pouco inteligentes, muito pelo contrário mas, uma matilha de doberman-castro-laboreiro tocada por uma ovelha branquinha era, no  mínimo, de uma anormalidade surreal. Seriam os cães estúpidos ou eram vegetarianos?

E o velhinho? Qual o seu papel no meio desta história? Seria extra-terrestre? Aquela luz na cara dele parecia que, mais que sobre a cabeça estivesse a incidir a luz de um foco luminoso qualquer, a cabeça parecia dar luz, como se a cabeça fosse uma lâmpada. Fazia lembrar o que tem 9 biliões de nomes, ou aquele outro que trabalha uma noite por ano mas, nenhum dos canídeos tinha um nariz vermelho, ou teria? Precisava mesmo de não se esquecer dos óculos da próxima vez, a realidade estava a tornar-se mais estranha que o habitual.  



A cena passou-se em movimento, poucas dezenas de segundos se tanto, e poucos mais passos, já que ele não parou ou abrandou o ritmo, afinal tinha ficado para trás, todo restante grupo ia mais à frente, talvez uns bons dois quilómetros ainda que, sem óculos, poderiam ser uns quinze …


BANANA


Não confundir...

A Banana


com

a

Banana ...