Saturday, January 21, 2012

o Contrabandista - Episódio 2

Não tinha grandes memórias da infância, possivelmente porque se tinha dado ao trabalho de as reprimir tal era a revolta que sentia desde a sua adolescência, quando se revoltou com a Guarda, onde foi criado, por lhe ocultarem a verdadeira origem e progenitores. Tirando talvez o cartaz à entrada, o seu orgulho, osntentava as fotos-robôt dos dois contrabandistas mais procurados da região, os seus verdadeiros pais.
A sua mãe é que lhe contou a sua origem humilde e a sua concepção artificial, pois seu pai estava sempre ausente, sempre de lá para acolá, como sua mãe, em horários trajectos candongueiros diferentes. Queriam muito ter um filho mas como nunca conseguiam estar juntos, decidiram recorrer a ajuda externa, à Graciete ... que já com os seus tenros 16 anos, era quem tratavava dos mandos e desmandos destas coisas lá na aldeia. Mostrou-se muito prestimosa a Graciete, e recolheu ela própria as sementes do seu pai que depositou ela própria e de imediato em sua mãe, um método que aprendeu de sua avó, tinha ela apenas 10 anos, uma técnica ímpar, hoje em desuso, mas que naqueles tempos e paragens remotas as pessoas desenrascavam-se como podiam.
Foi em todo o caso um assunto tratado de boca, que se diz no jargão técnico de uma "inseminação boboiana".
A gestação decorreu num ápice. Gestou nas entranhas de sua mãe durante algum tempo, ninguém sabe ao certo se foram 9 meses, pois sua mãe pensou que aquele inchaço crescente era barriga de cerveja. Quando o pariu ia a fugir da Guarda, o puto ainda andou aos tombos preso pelo cordão umbilical à sua mãe, mas ela continuou a correr, pensando que tinha caído alguma da carga.
A Guarda parou para a panhar o puto do chão, e levou-o para o Quartel, onde foi criado pela Guarda. Foi um verdadeiro “filho da Guarda”, foram eles que o baptizaram de Manuel da Guarda, se bem que era mais conhecido dos guardas por “Senhora do Alívio”.
Só nas crises da adolêscencia, e com o agravamento das crises de hemorróidal, é que veio a descobrir que, afinal, as suas raízes eram outras, e que o sangue candongueiro lhe corria nas entranhas.
Deu-se então a revolta.